Viena, a cidade da música que conheci

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Maio de 2015. Fui a Viena para participar numa exposição colectiva. Uma artista austríaca, vários artistas italianos e eu, fotógrafo português.

Guardava na memória a cidade que visitei há vinte e quatro anos atrás, na companhia dos meus pais, pela celebração dos duzentos anos da morte de Wolfgang Amadeus Mozart. Desta vez, sozinho, misturei-me com os locais e aceitei os inúmeros convites que a cidade me proporcionou. 

Fiquei junto ao Danúbio, perto do comboio e jardins, em casa de uma amiga. Do meu quarto andar tenho uma panorâmica muito bonita sobre a cidade. Ao longe, entre o verde das árvores, espreita uma torre de betão. As “torres Flak”. Duas enormes torres anti-aéreas, mandadas construir por Hitler para defesa da cidade, impõem ainda a sua pesada presença. Demolir estas torres gigantescas implicaria destruir 3 bairros inteiros, num raio de alguns kilómetros, como me foi explicado. À volta das torres foram plantadas muitas árvores e grandes relvados. Os habitantes da cidade aprenderam a ignorá-las e os grandes relvados construídos à volta destas memórias são diáriamente usados para praticar desporto, jogar à bola, fazer piqueniques, ler um livro ou até sentar nos bancos de jardim a namorar.

Dirigi-me à Ringstrassen Galerien – um pequeno centro comercial de grande qualidade, bem no centro da cidade, a um quarteirão do museu Albertina.   Depois da reunião na galeria para combinar a montagem da exposição, saio para conhecer a cidade.

A travessia das estradas é feita exclusivamente usando as passadeiras ou os túneis que dão entrada para o metro em ambos os lados das ruas, e as pessoas esperam que o sinal abra para atravessarem – explicaram que a cidade é vigiada por câmaras que filmam 24h por dia. As pessoas respeitam e cumprem as regras, desapegadas da ideia do direito à imagem. O sistema funciona, e de facto há uma sensação de bem estar e segurança. Andei por todo o lado, a qualquer hora, com a máquina fotográfica sempre pronta a disparar e não me senti inseguro por um minuto que fosse.

Sou recebido por uma multidão de jovens que passeiam nos jardins, se sentam em grupos a conversar junto a lagos e nas escadarias dos museus e edifícios públicos. A música que tocam nem de perto rasga o clássico. Sentei-me no chão na companhia de uma cerveja e  arrisquei tirar da mochila a minha harmónica nova. Ninguém se afastou, o que me deu alguma confiança para continuar a explorar a minha falta de ouvido musical.

Olhei em redor.

Reparei numa estrutura móvel de contraplacado que um grupo de jovens usava para pintar com graffiti. Vi muita gente a passear cães. Os cães são passeados à trela e usam os “sanitários caninos”, normalmente zonas fechadas por pequenas cercas sobre piso de areia. Umas aves muito coloridas, penso que da família dos pombos, espreitam por entre as abas de uma mala de senhora. Por vezes levantam voo mas depressa regressam ao conforto da mala.

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